Em nosso dia-a-dia
como profissionais prevencionistas, vemos diversas empresas desenvolvendo
excelentes programas de saúde e segurança ocupacional e tendo êxito com pouco
investimento e esforço, porém vemos também exemplos de empresas, inclusive de
grande porte, gastando milhões para implantar programas. No entanto, após
alguns anos, o programa se perde, a empresa não consegue transformar em ações o
projeto proposto. O motivo do insucesso ocorre principalmente, devida a falta
de disciplina operacional, incluindo aspectos pontuais e sistêmicos.

A disciplina
operacional pode ser definida como; os princípios, as atitudes e os valores da
organização e dos indivíduos, que influenciam diretamente na segurança,
qualidade e eficácia das operações. Pois, é com dedicação e comprometimento,
que cada membro da organização, conseguirá executar as tarefas propostas de
maneira correta. Para isso, faz – se necessário muitas discussões e um processo
sistêmico e rigoroso para atingir metas e objetivos. Tudo isso requer dos
líderes e empregados engajamento pessoal e organizacional.
Dessa forma, a
empresa para atingir a excelência operacional e, consequentemente, a excelência
em saúde e segurança ocupacional necessita definir as regras operacionais.
Estas regras são definidas pelas políticas, normas e procedimentos mais adequados
para as suas atividades, Por outro lado, procedimentos e regras escritas e não
seguidas, é o mesmo que não tê-las. Por isso, a disciplina operacional não se
refere apenas ao gerenciamento de segurança e saúde no trabalho, mas é um
processo amplo que contribui ou poderá prejudicar o alcance da excelência do
negócio como um todo.
Com isso, Sidney
Dekker discute um tipo específico de fenômeno que ele chama de “deviation
drift". Ele o define como um desajuste entre procedimentos ou regras e a
prática real, afirmando esse descompasso quase sempre existente e que pode
aumentar ao longo do tempo. A curva do desvio aumenta o gap entre a forma como
o sistema foi concebido ou projetado e como ele realmente funciona. Essa
distanciação tende a ser lenta e incremental conduzindo o desvio até a
materialização de uma perda (acidente).

O gráfico acima
desmotra como ocorre o processo de degradação da disciplina no processo
operacional. A linha vermelha demostra a
maneira como o trabalho é executado, ela vai se desviando de forma lenta e
continua da linha verde que é como o trabalho está padronizado (melhor forma
definida até o momento), nesta fase, é comum os empregados julgarem que esta
tudo bem se desviar do padrão, pois nada ainda ocorreu, isso se torna um
reforço positivo para que o desvio continue, ate que em um dado momento é
atingido ao limiar inferior, a linha laranja que
são os riscos inerentes das atividades e fatores contribuintes que conduzem ao
acidente.
Após a ocorrência
de acidentes, o grande objetivo das análises e investigação não é determinar em
que as pessoas erraram, mas sim, compreender por que as suas avaliações e ações
faziam sentido naquela hora. As respostas para esta questão vão ajudar
compreender com profundidade as causas dos desvios e tomar ações corretivas de
fato estruturantes. Dekker lista também várias potenciais razões para esses
desvios ocorrerem nas organizações:
- Regras ou procedimentos não correspondem à forma como o trabalho é
realmente executado;
- Existem prioridades conflitantes, o que torna confusa a identificação do
procedimento mais importante;
- Sucesso passado (em desviar-se da norma) é tomado como garantia de
segurança. Esse sucesso acaba por reforçar o comportamento inseguro;
- Quando sair da rotina torna-se rotina. As violações tornam-se
comportamento tolerados pela organização.
Entender essas
razões nos permite projetar e implementar padrões de trabalho ou procedimentos
que são mais prováveis de serem seguidos na empresa. As características tanto
individuais quanto empresariais para o desenvolvimento da disciplina
operacional são as seguintes:
- Disponibilidade: garantir que os procedimentos e os padrões para
execução das tarefas estejam acessíveis aos seus usuários);
- Qualidade: muitas vezes elaborar um procedimento de 90 páginas não
significa ter qualidade e, muitas vezes, pode não ser específico);
- Conhecimento: entender como fazer uma tarefa corretamente e com
segurança envolve capacitação e conscientização;
- Cumprimento: comprometer-se a fazer as tarefas da maneira certa, cada
vez, toda vez!
Agora que você já
conhece a “Curva de desvios” e o seu impacto na disciplina operacional,
reavalie os procedimentos de saúde e segurança de sua organização e verifique
se está aderente as necessidades, favorecendo o aprendizado organizacional e
atuando na sistematização de processos para prevenção de acidentes. Até a
próxima!
Referências:
ARRUDA. A. S. Fabio, Por que empregados comprometidos se acidentam?
Disponível em: >http://www.arrudaconsult.com.br<. Acesso em: 30 Maio de 2020.
DEKKER, S.W.A. The Field
Guide to Human Error Investigations. London: Ashgate, 2002.
TRASK, M. N. Operating
Discipline. Plant/Operations Progress, Vol. 9, No. 3, 1990.
Nenhum comentário:
Postar um comentário